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A Independência do Fed Durante as Eleições: Uma Análise da Tomada de Decisão e Pressão Política

Adam Lienhard
Adam
Lienhard
A Independência do Fed Durante as Eleições: Uma Análise da Tomada de Decisão e Pressão Política

O papel de bancos centrais em economias modernas é crucial, assegurando estabilidade monetária por meio de políticas de taxas de juros, ações contra a inflação e influência sobre condições financeiras maiores. Um debate chave ao redor dos bancos centrais é aquele a respeito de sua independência da influência política, especialmente durante períodos eleitorais. Governos tentando a reeleição podem dar preferência a políticas que estimulam o crescimento econômico ou que impulsionam temporariamente o emprego para angariar votos.

Este artigo mergulha na dinâmica existente entre bancos centrais e atores políticos durante períodos eleitorais, focando-se especificamente na realidade dos EUA e no Fed. O objetivo é avaliar o grau de independência e o comportamento do banco central quando a eleição se aproxima.

Teoria: a independência do banco central e a influência política

Teoricamente, bancos centrais independentes agem sobre interesses econômicos duradouros, sem a influência de objetivos políticos governamentais de curto prazo. Esta independência é essencial para a manutenção da credibilidade, especialmente no controle da inflação e fomentando crescimento econômico sustentável. Entretanto, a realidade geralmente sugere que, a despeito da independência formal, bancos centrais podem enfrentar pressões políticas sutis durante períodos eleitorais.

Um modelo discutido na teoria do Lying Low de Drazen, demonstra que, ainda que bancos centrais sejam independentes em anos não eleitorais, eles tendem a acomodar pressões políticas durante eleições. Neste períodos, políticos podem forçar expansão monetária, na esperança de que ganhos econômicos de curto prazo possam melhorar as perspectivas eleitorais. Ainda que bancos centrais sejam legalmente autônomos, a pressão para “ficar quieto” (lie low), ou evitar mudanças políticas significativas antes de eleições é bem documentada, como se vê pela relutância do Federal Reserve em aumentar ou baixar taxas de juros durante anos eleitorais.

Estudo de Caso: O Federal Reserve

O Federal Reserve (Fed) é um dos mais influentes bancos centrais do mundo, considerado independente por design. Entretanto, vários estudos mostram que o Fed enfrenta pressões políticas durante anos eleitorais.

A prática do Fed de “ficar quieto” pode ser traçada a inúmeros incidentes em que ele evitou alterar a política monetária em meses próximos à eleição. O comentário de Alan Greenspan de 1992, por exemplo, sobre o luxo de não fazer nada até o fim das eleições, ilustra como o Fed mirou evitar ser arrastado a controvérisas políticas:

“Eu queria que tivéssemos o luxo de sentar e não fazer nada até depois da eleição, como é o comportamento padrão do Federal Open Market Committee”.
(Transcrições FOMC, 6 de outubro de 1992)

A Taxa de Fundos Federais é a taxa de juros pela qual os bancos e outras instituições depositárias emprestam saldos mantidos nos Bancos da Reserva Federal uns aos outros durante a noite. Esta taxa é diretamente impactada pelas decisões do Fed sobre taxas-chave. No gráfico abaixo podemos ver seu comportamento durante os últimos 35 anos de intersecção entre política monetária e eleições.

Por “período eleitoral” consideraremos os 4 meses anteriores ao dia da votação, já que é exatamente durante este período os candidatos de ambos os partidos começam a debater publicamente e angariar eleitores para sua causa.

Em 5 de 8 destes períodos eleitorais, o Fed estabilizou sua política monetária, deixando a taxa básica inalterada até que um dos candidatos triunfasse. Dentre estas 5 vezes, em 3 o Fed reverteu completamente sua política, baixando a taxa quando ela estava mais alta e aumentando-a quando ela estava mais baixa.

Esta reversão foi levada a cabo não tanto por fatores políticos, mas por fatores econômicos:

  • Em 2001, houve o estouro da bolha do Dotcom, que fez com que o Fed estimulasse a economia de forma pesada.
  • Em 2016, o Fed tentou prever uma possível inflação acima da meta, mas parou de aumentar as taxas devido a leituras econômicas desastrosas da China.
  • Em 2020 aconteceu a pandemia da Covid, e a inflação, assim como a taxa-chave, começou a subir novamente somente no começo de 2022.

Nas outras 3 vezes, o Federal Reserve continuou seu atual ciclo monetário, cortando as taxas em julho de 1992, bem como em julho de 2008 (aqui, também por causa da crise financeira mundial e da necessidade nacional de estímulo), e aumentando-as em julho de 2004.

Desta análise, fica claro que o Fed tenta se manter tão neutro quanto possível relativamente a eleições. Por outro lado, é visível uma tendência clara durante as mudanças no partido no poder.

Quando um aumento nas taxas acontecia durante o segundo mandato consecutivo de um presidente democrata ou republicano, no mandato seguinte esse partido não recebia mais poder de decisão. Este comportamento foi recorrente durante o primeiro mandato de Trump. Neste caso, porém, o Fed apenas prosseguiu de onde havia parado, ao cessar o aumento de taxas em janeiro de 2016.

Em todos esses casos, o fenômeno do aumento das taxas mais uma vez ressalta o impacto negativo de uma política monetária agressiva na opinião pública.

Conclusão

Apesar de sua independência legal, o Fed pode agir diferentemente durante períodos eleitorais, comparados a anos não eleitorais.

A relutância em aumentar a taxa de juros, que é um movimento politicamente impopular, é especialmente evidente em muitos ciclos eleitorais. Isso é ainda mais apoiado por evidências econométricas que mostram menos mudanças políticas agressivas em anos eleitorais nos EUA. Outros países exibem comportamentos similares, ainda que o nível de acomodação do banco central varie com base na estrutura política e na independência legal do banco.

Em 18 de setembro de 2024, pela primeira vez em 20 anos, o Fed mudou sua política em direção a uma postura mais moderada durante o período mais acirrado da temporada eleitoral, cortando taxas em 50 pontos-base. Como nunca antes nos últimos 35 anos, um evento dessa importância aconteceu no período de julho a início de novembro, há mais interpretações para essa mudança abrupta de política do que apenas a econômica.

Estaria o Fed simplesmente com medo de uma recessão? Será que o país simplesmente acha que já passou da hora de reduzir as taxas ou também recebeu pressão do atual governo dos EUA, na esperança de obter consenso com uma política de flexibilização? Não podemos saber com certeza.

No entanto, o desafio para o Fed, bem como para os bancos centrais de outros países, é manter sua independência enquanto administram essas pressões políticas para evitar a erosão de sua credibilidade e eficácia a longo prazo.

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